quarta-feira, 8 de junho de 2011

Tragédia com os catadores de laranja da região sul completou um ano e nada mudou

Completou no último dia 31 de maio, um ano da tragédia que vitimou sete trabalhadores da citricultura e deixou outros com sequelas. Após um ano o que mudou na região? As estradas vicinais melhoraram? As pontes de madeira foram trocadas por concretos? Como vivem as famílias que perderam seus entes queridos? Os responsáveis já foram punidos? Qual o desdobramento desta tragédia? São perguntas que pairam na mente de quem sofreu ou ouviu falar deste triste capítulo na vida dos trabalhadores da citricultura da região.
Informações colhidas pela nossa reportagem apontam que o acidente aconteceu porque o caminhão estava com excesso de peso, viajavam muitas pessoas em cima da carga, a ponte era velha e recebeu uma reforma apenas da parte de cima (tablado) e manteve a mesma estrutura antiga que cedeu com o peso do veículo que transportava laranja e pessoas.
Registramos também que maioria dos trabalhadores da região citrícula do estado de Sergipe continuam sendo transportados sobre as cargas, nas carrocerias dos caminhões e trafegando em pontes de madeira, mesmo após um ano da tragédia que vitimou sete trabalhadores de Boquim na ponte do Povoado Fonte Nova no município de Estância.
A nossa reportagem ouviu o presbitério Nixon da Silva, que esteve no local minutos após o acidente. Perguntamos o que como mudou no lugar que ocorreu a tragédia, ele é taxativo: foi feito até agora apenas um desfio e foi mais longe: “o local onde ocorreu a tragédia está intransitável, todo veículo passa por lá com muita dificuldade”, denuncia Nixon da Silva.
Questionado em relação às vítimas, ele revelou que inicialmente elas receberam do proprietário da beneficiadora uma ajuda de custo no valor de cinqüenta reais e que depois baixou para trinta por família durante aproximadamente seis meses. Informou que muitas vítimas entraram com ações na justiça do trabalho por danos morais, indenizações e verbas trabalhistas, através do advogado Joilson Santos Menezes. “Hoje muitos estão abandonados, com seqüelas graves e outras leves, com sérios problemas de saúde e com dificuldades para continuar trabalhando, aguardando as decisões das autoridades competentes”.
Ele denunciou também que hoje existe uma ponte que liga Salgado a Boquim (bairro Santa Rosa) que as pessoas são obrigadas a descerem dos transportes (ônibus ou pau de arara) que os veículos passem vazios e os passageiros sigam a pé em cima dos troncos de madeira. “È necessário que seja construída uma ponte de concreto nesta localidade e acabe com esse transtorno. Essa estrada é usada para escoar os produtos cítricos para as indústrias e também para serem comercializados na feira de Estância”, ressalta Nixon da Silva.
Já para o presidente do Sindicato dos Produtores de Citros da Região Centro Sul do Estado de Sergipe, José Raimundo Rodrigues a situação melhorou muito. Ele garante que existe trabalhadores sendo transportados em micro ônibus, mas admite que a cultura do pau de arara na região ainda é muito grande e que infelizmente ainda existe trabalhadores sendo transportados em caminhões.
O acidente
Segundo denúncia do Ministério Publico a tragédia que abalou a região Sul de Sergipe, ocorreu dia 31 de maio de 2010, por volta das 16 horas e 40 minutos, onde o senhor Francisco dos Santos, conduzia o veículo tipo caminhão, marca Mercedes-Benz L 1620, de cor amarela, ano de fabricação 2004, placa policial JJB-9906, UF-SE, RENAVAN nº 825228590, simples com 8 mil kg, carroceria tipo carga seca, com capacidade para 15,60 mil Kg, cor amarela, propriedade de Cícero Barreto Gois, ao passar por uma ponte de madeira numa estrada vicinal não pavimentada, próximo ao Povoado Fonte Nova, município de Estância-Se, provocou um acidente que vitimou fatalmente as pessoas de JOSÉ EDNALDO SANTOS DE JESUS, JOSÉ ORLANDO DOS SANTOS, ANTONIONE SANTOS RODRIGUES, COSME DE JESUS, RAILDE DE JESUS SANTOS, ELENILSON DE JESUS SANTOS, MARIA LENILDE DE JESUS.
Saindo ainda deste acidente lesionadas as seguintes pessoas: Nanderobson Santos Lima, Miguel dos Anjos, Miguel Bispo dos Santos, José Emerson dos Santos, José de Jesus, Eliseu Caetano da Silva, Josefa de Jesus Oliveira Elenilza de Jesus, José de Jesus, José Agnaldo Gomes dos Santos, José Adriano Gomes dos Santos, Messias Jorge dos Santos Osenil de Souza Silva, Edilma de Jesus Santos e Grimaldo Mendonça de Jesus, documentos de fls. 07/09, restando à vítima Hosano de Souza Silva com o seu braço decepado, conforme declarou perante a Autoridade Policial à fl. 34.
Consta na denuncia que as vítimas foram recrutadas pelos denunciados Gleidinaldo Silva de Andrade “Toicinho”, José de Jesus Santos “Zé Preto” e José Menezes Cruz responsável também pela compra da laranja para a pessoa do denunciado Adam Antônio de Oliveira “Ada”, que por sua vez seria o responsável pelo transporte correto, legal dos catadores.
Consta ainda que terminado o carregamento do caminhão que tem capacidade para 15.60 toneladas, com a carga na altura do “gigante”, com peso aproximado de 20 toneladas, já ultrapassando o limite, mais 08 (oito) toneladas equivalente ao peso do próprio veículo, mais o peso de aproximadamente 30 pessoas com média de 60 kg, temos 1.800 Kg, temos um total de quase 30 toneladas, para uma ponte de madeira geralmente construída para suportar cerca 20 toneladas.
Segundo relatos dos próprios catadores que consta nas ações penais e trabalhistas e civis, inicialmente os trabalhadores foram informados que haveria transporte de retorno, entretanto, este não chegou ao local, não havendo outra opção, foram obrigados a subir na carga do caminhão, em meio a escadas, caixas e outros objetos pertinentes, sendo que alguns ainda conseguiram segurar nas cordas que prendiam as laterais da carroceria, expondo a vida deles ao perigo iminente.
Prossegue na denúncia do Ministério Publico que o motorista, mesmo tendo conhecimento do risco, deu início a viagem de retorno, e no momento em que as rodas traseiras do caminhão firmou-se na ponte, segundo algumas vítimas, ouviu-se um “grande estalo” a ponte quebrou e o caminhão dornou fazendo com que a carga caísse por cima de vários trabalhadores restando 07(sete) em óbito ainda no local, outros feridos e até mutilado, conforme descrito no Registro de Ocorrência Policial lançado às fls. 51, bem como Laudo Pericial de fls. 192/193.
É preciso que as prefeituras da região, Governo do Estado, Ministério Público do Trabalho e sindicato dos trabalhadores rurais, entidades dos produtores e a sociedade em geral unam-se esforços para evitar que outras tragédias aconteçam e que de fato sejam construídas ações integradas para evitar outras vidas sejam ceifadas.
Em tempo informamos que o deputado estadual Gilson Andrade encaminhou requerimento na Assembleia Legislativa que foi aprovado por todos pares daquela Casa solicitando providencias do Governo do Estado e que o governador Marcelo Déda sensibilizado com toda essa realidade já encaminhou o DER para fazer um levantamento das pontes de madeira para ser construídas pontes de concreto. (jornalista diplomado Augusto Santos DRT 705/SE)

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